Frequentemente pensamos em lesão como sendo algo de aparecimento súbito, tal como uma entorse do tornozelo, uma luxação do ombro, ou uma rotura muscular. No entanto, tão aborrecidas como as lesões agudas, são as lesões de sobre-uso. Talvez mais até, porque se numa lesão aguda sabemos exactamente o que a causou, numa lesão de sobre-uso, nem sempre conseguimos identificar a sua causa.
Nunca ouviste falar das lesões de sobre-uso?
Uma lesão de sobre-uso é uma lesão que surge devido a danos causados por movimentos repetitivos ao longo de um período de tempo, em diferentes tipos de tecido: músculos, tendões, ligamentos, cápsulas articulares, ossos, fáscia, bursas, etc. Podemos chamar-lhes lesões cumulativas, já que são o resultado de um acumular de microlesões que acabam por resultar num estado inflamatório que deixa de passar despercebido. O conflito sub-acromial do ombro, a epicondilite do cotovelo, a fasceíte plantar no pé, o desgaste dos discos intervertebrais na coluna, a compressão do nervo ciático, e as fraturas de stress, são alguns exemplos de lesões de sobre-uso – talvez as mais comuns. Muitas vezes, basta uma postura incorreta para haver o aparecimento de episódios sintomáticos, que não conseguimos associar a nenhum evento traumático recente.
Num tom de brincadeira, culpamos a idade pelo aparecimento de determinados sintomas. É a dor no joelho, é a dor lombar, a dor na cervical, a dor no ombro e na anca também. Por vezes, vamos ao médico, fazermos exames auxiliares de diagnóstico que mostram pequenos sinais, mas nada que justifique a intensidade dos sintomas. Se for esse o caso, são boas notícias! Pode simplesmente ser o primeiro sintoma de uma lesão de sobre-uso, e possivelmente estarmos ainda a tempo de observar os padrões de movimento do indivíduo com o objectivo de entendermos a causa e corrigirmos atempadamente… antes que se transforme em algo crónico.
As lesões de sobre-uso podem ter várias origens. O aumento súbito da actividade física, a falta de recuperação entre treinos, exercícios repetitivos, alguma incapacidade técnica na execução dos exercícios, desequilíbrios musculares que levam a uma execução incorreta e os excesso de cargas são só alguns exemplos de factores que podem levar à lesão de sobre-uso. Isto não se aplica só ao exercício físico… se o indivíduo executa um movimento de forma sistemática, como por exemplo levar sempre uma mala pesada à tiracolo, isto só por si pode desencadear uma séries de alterações e desequilíbrios musculares ao nível de várias articulações que podem perfeitamente ser responsáveis por episódios de dor e mau-estar.
Um olhar positivo sobre este tema… a partir do momento em que temos a noção (ou até a dúvida) que algo no movimento está a causar o sintoma, podemos procurar a causa e tentar corrigi-la. Podes dizer “Como faço isso?”, e essa é uma excelente pergunta para a qual a resposta é francamente fácil: Procura alguém que saiba fazer uma avaliação funcional e consiga relacionar a forma como te moves sem e com carga com os sintomas que sentes. Esse é o primeiro passo na procura da causa! Até que consigas perceber o que está a causar o sintoma, é importante que…:
limites o esforço que potencialmente está a agravar a situação;
minimizes os movimentos repetitivos que levam ao agravamento dos sintomas;
te certifiques que aplicas uma técnica correta, e usas equipamento adequado para a actividade em questão;
aumentes gradualmente o teu esforço na procura pelo objectivo, em vez de aumentares o teu nível de actividade demasiadamente rápido;
Se aquela dor ao moveres-te começou a surgir pontualmente e não entendes o porquê do seu aparecimento, não tentes ser mais forte do que ela, particulamente se se agrava quer em intensidade, quer em frequência. Muito mais importante do que eventualmente teres que abrandar para desinflamar e entender a dor, é saberes que se o fizeres adequadamente, a probabilidade de poderes voltar a exercitar-te em condições e sem limitações é muito real. É essencial que a causa seja identificada e corrigida, para prevenir o agravamento da lesão e o surgimento de novas lesões de compensação associadas à primeira.
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